O homem e o mundo natural
Keith Thomas, Ed. Companhia das Letras
por Juliana Schober Lima
O livro O Homem e o Mundo Natural trata das atitudes dos homens para com os animais e a natureza durante os séculos XVI, XVII e XVIII. O autor expõe os pressupostos que fundamentaram as percepções, raciocínios e sentimentos dos ingleses no início da época moderna frente aos animais, plantas e paisagem física, chamando a atenção para um ponto fundamental da história humana: o predomínio do homem sobre o mundo natural.
Keith Thomas é um historiador inglês, considerado um dos mais eminentes e inovadores do Reino Unido de hoje. O homem e o mundo natural foi um dos livros que colocou o autor em uma posição de liderança na chamada "antropologia histórica". Na última década, ele recebeu duas grandes homenagens da sociedade britânica: foi nomeado presidente da centenária Academia Britânica e recebeu o título de Sir, conferido pela rainha Elizabeth por "serviços prestados à história".
O livro é dividido em seis capítulos muito bem escritos, que absorvem o leitor enquanto este é conduzido aos primórdios da preocupação ecológica. O livro inicia abordando a visão antropocêntrica do mundo animal. O boi e o cavalo haviam sido criados para "labutar a nosso serviço", o cão, para "demonstrar lealdade afetuosa", as galinhas, para exibir "perfeita satisfação em um estado de parcial confinamento", o piolho "fornecia poderoso incentivo aos hábitos de higiene". As plantas eram estudadas em função de seus usos humanos. Os animais eram classificados pelos zoólogos, no início da época moderna, conforme sua estrutura anatômica, habitat e modo de reprodução. No entanto, também era considerados a sua utilidade para o homem, bem como o valor alimentício, medicinal e de símbolos morais.
Era fundamental que existisse uma linha divisória nítida entre homens e animais, pois no início do período moderno esta divisão serviria de justificativa para a caça, domesticação, hábito de comer carne, vivissecção e para o extermínio sistemático de animais nocivos ou predadores. Esta divisão entre homens e animais teve conseqüências importantes para as relações entre os primeiros, e legitimava os maus-tratos àqueles homens que viviam em uma condição tida como animal. Assim, Keith Thomas cita Robert Gray (1609): "A maior parte do globo era possuída e injustamente usurpada por animais selvagens (...) ou por selvagens brutais, que em razão de sua ímpia ignorância e blasfema idolatria, são ainda piores que os animais". As mulheres, "não tinham mais alma que um ganso", os pobres tinham ocupações "bestiais" e "labutavam como cavalos", os escravos eram marcados com ferro quente "como as ovelhas", e um ourives londrino do século XVIII anunciava para a venda "cadeados de prata para pretos ou cachorros".
A forma de abordar o desenvolvimento da história natural não está voltada para a exposição detalhada sobre a pesquisa de plantas ou para a enumeração e descrição de animais selvagens. Está voltada para o fato de os primeiros naturalistas modernos terem criado um sistema novo de classificação com objetivos menos antropocêntricos, gerando uma nova visão de mundo pelos homens. A sabedoria popular foi muito importante para os primeiros progressos da história natural, porém, as visões popular e erudita da natureza ao longo do processo foram gradualmente separadas, e então os trabalhadores do campo muitas vezes passaram a ser vistos como ignorantes. O botânico Peter Collinson, por exemplo, rejeitava as "histórias baseadas em boatos dos camponeses ignorantes".
Sociedade para a Supressão da Crueldade nos Animais
As maneiras com que as experiências dos homens com os bichos entraram em conflito com as ortodoxias da época, fizeram com que os intelectuais desenvolvessem uma visão original das relações do homem com outras espécies e, no final do século XVIII, a preocupação com o tratamento dos animais era evidente na cultura inglesa de classe média. Desde o final do século XVII, já era aceita à doutrina cristã que todos os membros da criação divina tivessem direito a serem tratados com respeito. O desenvolvimento desta nova sensibilidade permitiu, por exemplo, que o crocodilo "embora com aparência de terror e perigo" fosse "belo e puro quando compreendido". O autor ilustra com riqueza a presença marcante destas novas sensibilidades no século XVIII, da mesma forma que expõe com exemplos muito interessantes e muitas vezes chocantes, a grande crueldade dos ingleses para com os animais antes deste período. Os registros históricos existentes na Inglaterra permitiram que este tema fosse abordado de maneira extremamente interessantes neste livro. Infelizmente, a falta de registros relativos ao tema em outras partes do mundo é um dos fatores complicadores para este tipo de abordagem, o que talvez nos permitisse compreender melhor alguns aspectos do que o autor acredita ser uma das grandes contradições da civilização moderna, ou seja, o conflito crescente entre as novas sensibilidades e os fundamentos materiais da sociedade humana.
Hoje, nos vemos em uma situação bem diferente daquela retratada pelo autor no início da época moderna. Para uma demonstração desta diferença basta uma visita a um museu de história natural. Ao lado da coleções de espécies e plantas está o homem, perdido em uma enorme (e reconhecida!) diversidade. 

EXTRAÍDO http://www.comciencia.br/resenhas/mundonatural.htm

O lado perverso do Anti-malthus: para um mundo sustentável, quem tem a razão?

Política do filho único na China é bomba-relógio para o país

A política do filho único impediu o nascimento de quase 500 milhões de chineses, mas se transformou em uma bomba-relógio, já que o envelhecimento da população na China criará enormes problemas econômicos e sociais no pais mais povoado do mundo.

Se não tivesse aplicado a limitação de nascimentos, medidas que a esta escala e com tal rigor não foram aplicadas em nenhum lugar do mundo, a China teria cerca de 2 bilhões de habitantes que seria incapaz de alimentar, em vez dos atuais 1,34 bilhão.

Desde 1979, a política do filho único fez a taxa de fecundidade cair para cerca de um filho e meio por mulher chinesa, mas, da metrópole aos povos isolados, essa queda ocorreu de maneira acelerada, com esterilizações em massa, abortos até os oito meses de gravidez, "feminicídios" (assassinatos de meninas para priorizar o filho homem) e grande abandono de bebês do sexo feminino.

Os casais rebeldes podem ser multados com vários anos de salários, com a anulação do acesso aos serviços sociais e por vezes podem ser presos. As "crianças negras" (nascidas na ilegalidade) não têm nenhum reconhecimento legal.

Mas três décadas depois, os demógrafos soam o alarme quando começa a surgir uma grave crise de envelhecimento. A China é o único país em desenvolvimento que enfrenta o paradoxo de ser um país com população majoritariamente idosa antes de ser um país rico.

Na China, a crise do envelhecimento é "incomparavelmente mais rápida" que na Europa, onde "a fecundidade caiu, assim como a mortalidade, muito gradualmente em um século", declarou à AFP o demógrafo Christophe Guilmoto.

Nos próximos cinco anos, os que têm mais de 60 anos passarão de 170 milhões a 221 milhões, representando 16% da população (contra 13,3%).

Em meados do século, os habitantes com mais de 65 anos representarão 25% da população chinesa, considera a Comissão da População e Planejamento familiar, contra apenas 9% atualmente. E a metade dos maiores de 60 anos vive em um lar vazio, algo impensável no passado, quando viviam "quatro gerações sob o mesmo teto".

A pirâmide invertida dos 4-2-1 faz o governo temer: quatro avôs, dois pais e um filho único incapaz de satisfazer as suas necessidades e muitas vezes enfrentando o desemprego ou o êxodo para outras cidades para trabalhar.

"Em dez anos será um enorme desafio para o governo", disse à AFP Liang Zhongtang, um demógrafo envolvido em planejamento familiar.

A China já sofre com uma falta de infraestruturas médicas, lares para idosos e funcionários de saúde qualificados.

Para 2015, quer duplicar a quantidade de camas nos institutos especializados, para alcançar seis milhões. Mas seis milhões é a quantidade de camas que faltam atualmente.

A China apenas começa a montar um sistema de segurança social e aposentadoria para todos. Esta crise é "brutal de um ponto de vista econômico pela ausência de aposentadorias", explicou Guilmoto.

Será preciso "acelerar ainda a introdução de sistemas de segurança social e de aposentadorias, que por enquanto envolve apenas uma parte limitada da população urbana e é muito reduzida entre a população rural", disse o demógrafo.

"O direito a se reproduzir é um direito humano", afirmou He Yafu, demógrafo chinês. Mas, "inclusive se a China flexibilizar (as regras do filho único), não acredito que muitos casais queiram uma grande quantidade de filhos", explicou à AFP.

Guilmoto espera que "talvez a fecundidade aumente no futuro", mas "é incerto se observarmos as províncias mais avançadas, onde é quase de um filho por mulher".

extraído do jornal O Estado de Minas

AFP - Agence France-Presse
Publicação: 25/10/2011 10:20 Atualização:
 

A rio+20 nasceu sem nunca ter sido parida.

Participei de uma conferencia que contou com a participação de  uma funcionária das Nações Unidas levou um relatório do que foi a Rio+20.
Diria que por parte da conferencia foi interessante, pois trouxe detalhes da organização e das discussões que houverem junto com os membros de cada país, por outro, vimos que tudo vai ficar na mesma.
Preparei uma pergunta-diagnóstico onde queria que ela me respondesse como ela me faria acreditar em SUSTENTABILIDADE, pois a quase vinte anos tento entendê-la e não consigo. Assim, coloco aqui o porque sou realista - ou pessimista dentro da visão de muitos.


Ilma. Sra.
Quero agradecer ao mediador por permitir que eu me pronuncie e mais ainda a senhora a quem espero que possa realmente tirar minha dúvida.
Não quero gerar desconforto, não é o meu objetivo. Eu quero é apenas entender o real significado da sustentabilidade.
Meu nome é Ronaldo Gomes Alvim, sou professor visitante do programa de pós-graduação do PRODEMA – Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Em primeiro lugar quero deixar claro que ACREDITO que vejo equivocado dizer RIO+20 uma vez que tal discussão começou em 1972 em Estocolmo. Pra mim, isto sepulta outros 20 anos de luta das ONG’s que separaram esta conferencia da RIO-92.
COMEÇANDO ENTÃO
Há aproximadamente 20 anos sou professor universitário e nos últimos 15 venho tentando realmente entender o que a sociedade internacional chama de sustentabilidade, mas antes de dar inicio a minha dúvida, gostaria de lembrar uma passagem que tive a oportunidade de ver na Rio-92, pois acredito que tem tudo a ver com que estamos discutindo. Naquele evento, dois índios falavam sobre a importância da discussão do tema, SUSTENTABILIDADE, para eles e de repente, um organizador do evento aparece com uma criança chorando e pede permissão a eles para, diante do público, anunciar que esta estava perdida. Houve um silêncio de todas as partes, neste instante, o índio pega o microfone e diz “na verdade, estamos todos perdidos”.
Hoje, passados 20 anos da Rio-92 e 40 da falecida conferencia de Estocolmo esquecida no meu ponto de vista de propósito nesta data, vejo naquelas palavras que ele tem razão até os dias de hoje, isto é, estamos completamente perdidos quer ver?
EM NÍVEL INTERNACIONAL
- Segundo relatório da FAO, produzimos hoje alimentação suficiente para acabar com a fome no mundo, mas o que vemos? O número de subnutridos neste século subiu de “apenas” 700 milhões para um “pouquinho” mais de um bilhão de pessoas;
- Em outro documento desta mesma Organização informou que a atividade pesqueira atual  já vem comprometendo os principais recursos naturais mundiais e alguns dos organismos que fazem parte da nossa dieta como o atum, o bacalhau, o esturjão, entre outros, já não conseguem repor na natureza, o número de indivíduos que pescamos.
- segundo o Banco mundial, 22% da população mundial vive abaixo da linha da miséria recebe menos de 1,25 dólares ao dia e 1% dos rendimentos das pessoas mais ricas equivale ao que ganha 57% dos mais pobres no mundo.
 - Reduzir a pobreza e o impacto do crescimento sobre o meio ambiente não é fácil. Nos tempos difíceis em meio à fome e à morte, na África especificamente, estamos vendo as pessoas transformando florestas em desertos por utilizarem fogão a lenha por não terem dinheiro pra comprarem a gás.
- os índices de contaminação sejam aquática, atmosférica ou de rejeitos sólidos tem batido recordes ano após ano com o agravante de não ter o que se fazer com os atuais lixos tecnológicos.
- guerras são criadas para satisfazer os desejos econômicos dos países do norte onde numa caçada  “ao terror”, matamos mais de meio milhão de civis;
- criamos os transgênicos para “diminuir a fome no mundo” como é o caso da soja e milho principalmente E QUE ATÉ ONDE SEI, NEM FORAM DISCUTIDOS NA RIO+20. Tais produtos foram criados essencialmente alimentar o gado que nos próximos 15 anos alcançarão um número igual a uma cabeça de gado por cada humano do planeta e, há que se dizer que, uma área para servir de comida a uma res, serviria para matar a fome de pelo menos 4 pessoas, mas a sociedade não se preocupa com isto e sai daqui e vai ao restaurante comer um delicioso pedaço de carne.
EM NÍVEL NACIONAL
- as insanas políticas ambientais criadas por burrocratas analfabetos que arrasam nossa biodiversidade, não conseguem ver que afundam cada vez mais nosso país em um caos ambiental que, sem dúvida, afeta a saúde do nosso sofrido povo.
- as corrupções sangram os direitos mais sagrados do povo que é a saúde, educação, alimentação e moradia;
Partindo deste principio eu particularmente acredito que não haverá sustentabilidade enquanto houver pessoas morrendo de fome, desigualdade social, crianças morrendo por causa de diarreia, sexismo, analfabetismo e destruição do meio natural.
Para mim, Rio+20 ou Estocolmo+40 me mostra o que disse um de nossos políticos em seu escasso momento de lucidez: “Findas as reuniões e apagadas as luzes, parece que as pessoas se voltam para seus afazeres do dia-a-dia. E aí a fome é esquecida”. Claro, aí acrescento também as discussões circenses dos problemas ambientais, sociais, culturais, etc, etc. 
Gostaria de lembrar que a próxima conferencia daqui a 20 anos, veremos o mesmo, nada mudou a não ser termos no mundo mais de 10 bilhões de indivíduos utilizando os recursos naturais para alimentação, vestimenta, educação, etc. 

à Vendo desta forma, gostaria de pedir a senhora uma explicação sobre o que se propõe para os próximos vinte anos: continuidade deste processo de destruição ambiental? Degradação das culturas autoctonas? Perda de valores humanos? Fim dos ecossistemas?

Ética de la ecología alimentar: mucho más que el paradigma de la sostenibilidad actual


ECOLOGIA Y ALIMENTACIÓN Imprimir E-mail
La Etica y la Ecología en la alimentación
Por Cristina Baptista   
 
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Comer  animales es para un número creciente de personas del mundo occidental un comportamiento anti-ético y anti-ecológico. Rechazan ser cómplices del sufrimiento provocado a los animales y de la destrucción del planeta a causa de la producción pecuaria. Las motivaciones subyacentes a la adopción de un régimen vegetariano se basan en la defensa de los derechos de los animales y del medio ambiente; aunque lo importante es percibir lo que verdaderamente significa la afirmación de que el Hombre es superior a los animales.
 Al contrario de lo que inicialmente se pudiera pensar, no es debido al elevado índice de hormonas y antibióticos en la carne de consumo, ni a la dolencia de las vacas locas o a la gripe del pollo, que millones de personas en el mundo occidental están adoptando un régimen vegetariano. Son principalmente cuestiones de ética, relacionadas con los derechos de los animales, y con el equilibrio ecológico, que las  convencen a excluir de su alimentación los productos de origen animal. En Inglaterra, donde el movimiento vegetariano está organizado desde mediados del siglo XIX, los vegetarianos sobrepasan los 4 millones, estimándose un crecimiento de cinco mil semanales.
 Ser vegetariano ya no es exclusivo de una élite intelectual de prominentes figuras en las artes o las ciencias, que adoptaban un régimen alimenticio exento de carne por razones prioritariamente filosóficas o espirituales. A lo largo del siglo XX, con la creciente toma de conciencia de la gravedad de los problemas ecológicos y de los métodos usados en la producción agropecuaria, la opción por un régimen alimenticio vegetariano es cada vez más una toma de posición contra el modelo de desarrollo que define los contornos de esta civilización.
La ética de la rentabilidad
 Es difícil permanecer indiferentes ante la descripción y las imágenes que ilustran la producción pecuaria en régimen intensivo. Probablemente la mayoría desconoce que la ternera que se le sirve en el plato fue obligada a permanecer inmóvil y con la cabeza encajada en el pesebre, a costa de descargas eléctricas provenientes de dispositivos estratégicamente colocados, para que así engorde rápidamente. No obstante su tortura no se agota con la fase de engorde. Durante el transporte son mantenidos aislados en espacios ínfimos, donde no se consiguen mover y son alimentadas con una dieta liquida, sin hierro ni fibras, para que su carne se mantenga clara. Generalmente pasan mucha hambre y sed antes de llegar al matadero –un local desaconsejado a personas minimamente sensibles…-
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 ¿Y que decir de las condiciones infernales de los aviarios? La densidad de animales es tan grande que el nivel de stress  de las aves requiere la amputación de sus picos (sin anestesia, por no ser rentable),  para que no se maten unas a otras. Las gallinas son mantenidas en jaulas donde no tienen siquiera espacio para poder desplegar las alas y sus patas quedan deformadas debido al suelo de alambre. En tales condiciones la mayoría tiene graves problemas de salud, lo que lleva al uso masivo de antibióticos.
 Como el funcionamiento de los ovarios de las gallinas es regulado por la alimentación y por las condiciones de luz, las aves son sometidas a condiciones artificiales para que produzcan más huevos. Dos veces al día es mantenida una luz muy fuerte, alternada con periodos de oscuridad, a los efectos de confundir el ciclo biológico poniendo así dos huevos al día. Lo exiguo del espacio tiene el fin de mantenerlas siempre dirigidas hacia una cinta rodante donde circula su ración, ingeniosamente trepidante para que ellas coman continuamente. En esa ración están incluidos los cadáveres de la mitad de individuos que eclosionan y que son del sexo masculino, los cuales no ponen huevos y por eso solo sirven para alimentar  a sus hermanas, forzadas al canibalismo.
 Este sistema se repite en la producción de otras especies, como los lechones, en que la torpe madre cerda es obligada a permanecer inmóvil y acostada durante todo el periodo de alimentación de los mismos. Come y vive de lado, aunque por lo menos no se corre el riesgo de que aplaste a alguna cría con su corpulento cuerpo… Esta tiene el derecho a alimentar a sus hijos, al contrario de muchas vacas, que no gozan de ese privilegio. La mayoría de las terneras acaba en una carnicería, y la administración de hormonas y de concentrados proteicos hacen de las madres inmensos odres con patas, que mal se pueden mover.- En cada embarazo la vaca lechera es llevada a producir hasta 10 veces la cantidad de leche necesaria para alimentar a su cría-
 Cualquiera que sea la especie criada en régimen intensivo, encontramos el mismo sistema: animales imposibilitados para moverse en toda su vida, sometidos a condiciones de luminosidad y de aireamiento artificial, y alimentados de forma absurda –por el alto contenido de antibióticos  de hormonas esteroides, y por incorporar harina de carne y de pescado a pesar de ser animales herbívoros-. El sistema sigue con un transporte muchas veces realizado en crueles condiciones, terminando en un matadero donde los animales agonizan en estrés y sufrimiento, pues pronto se aperciben de su destino.
Por la vida en la Tierra
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 Las razones ecológicas que llevan a la adopción del vegetarianismo no son tan conmovedoras frente a las relacionadas con los derechos de los animales; aunque sus resultados potencian un sufrimiento mas afligente a nivel global. La producción pecuaria contribuye en varios frentes a alterar el equilibrio ecológico planetario.  Las consecuencias de la ruptura de ese equilibrio no se presentan favorables a la especie humana.
 El frente con efectos ambientales más globales se centra en la devastación de los bosques para crear prados y espacios destinados a la alimentación del ganado. Esta alteración en el uso del suelo contribuye a un aumento del efecto invernadero en la atmósfera terrestre, lo cual tendrá consecuencias imprevisibles en extensión e intensidad. Podrá provocar hambruna en gran escala, debido a significativas pérdidas en las producciones agrícolas, generadas por la inestabilidad climática y por la diseminación de plagas y enfermedades.
 La producción alimenticia futura también está comprometida. Dos tercios del actual área agrícola mundial es usada para producir pastos o alimentación para el ganado, y las técnicas agrícolas usadas están provocando una acelerada degradación del suelo, que pierde su capacidad productiva. El agua es usada en cantidades excesivas para el riego, suponiendo un riesgo para la disponibilidad futura de agua potable. Finalmente, la destrucción de ecosistemas para la creación de áreas agrícolas reduce drásticamente la diversidad biológica, que es esencial para el equilibrio global.
 En el centro de estos problemas está el hecho de que apenas el 10% de la energía consumida por un herbívoro es almacenada en su carne. De ese modo, cuando la alimentación humana se basa en productos de origen animal, se hace necesario cultivar una mayor extensión de tierra de lo que sería necesario si la alimentación fuese vegetariana. Dando una idea comparativa, para producir 1 kilo de carne de vaca son requeridos 16 Kg. de soja y cereales. También el generalizado agotamiento de stock de peces está asociado al consumo de carne, pues gran parte de las capturas pesqueras se destinan a la producción de comida para animales y fertilizantes.
La superioridad humana

 Todo ello se torna en una seria amenaza para el ambiente, debido al aumento en el consumo de carne después de la II Guerra Mundial, asociado a una imagen de abundancia. Esta tendencia fue reforzada por mitos infundados, que hacen creer que solo a través de la carne el hombre puede obtener proteínas y el hierro que necesita. El resultado es que hoy la población de los países más desarrollados tiene una alimentación demasiado rica en productos de origen animal, poniendo en riesgo su propia salud.
 Sin entrar a valorar la falta de racionalidad de este comportamiento alimenticio, diversas corrientes filosófico- religiosas defienden que el vegetarianismo es una condición necesaria para que el ser humano pueda desenvolver una conciencia superior. Argumentan que el consumo de carne degrada y sintoniza el cuerpo humano con las pasiones de naturaleza inferior, porque al ingerir carne se integra también el componente emocional y etérico del animal. Consideran que la superioridad del Ser Humano le confiere una mayor responsabilidad sobre los otros seres, debiendo trabajar constructivamente en el equilibrio y armonía entre las diferentes formas de vida. Esa es una de las razones por las que no debe generar violencia para alimentarse.
 Estos argumentos dejan algunas pistas de reflexión. ¿Será que el Ser Humano es superior porque tiene una mayor capacidad de violentar y destruir la naturaleza? ¿O la verdadera superioridad será una conquista sobre los insititos más primarios, característicos de los animales señalados como inferiores?
Cristina Baptista
Licencia en Ingeniería Medioambiental
Editora de los Cuadernos de Educación Ambiental, del Instituto de Promoción Ambiental,

O fantasma de Malthus: carestia, fome e biocombustíveis

O aumento do preço dos alimentos, comodities e energia trouxe de volta o fantasma malthusiano da fome e de uma possível crise de mortalidade. Countudo, a esperança de vida continua aumentando no mundo e os avanços tecnológicos, juntamente com a inventividade humana e a continuidade da transição da fecundidade podem garantir um futuro mais promissor para a humanidade.
Algumas pessoas consideram que o surgimento de estudos demográficos mais elaborados começaram com Thomas Malthus (1766-1834) e que o pastor anglicano fez um alerta importante ao dizer que a fome e a miséria seriam “xeques positivos” para reduzir o ritmo de crescimento da população. Assim, toda vez que aumenta a carestia, surge o medo da fome e o receio com a super-população (overpopulation) e a insegurança alimentar.
Contudo, contribuições mais importantes para a demografia vieram de pensadores iluministas que escreveram antes de Malthus, em especial, o Marquês de Condorcet (1743-1794), na França, e William Godwin (1756-1836), na Inglaterra. Estes autores acreditavam no progresso do bem-estar e na “perfectibilidade humana”. Eles achavam que se poderia vencer as doenças que limitavam a esperança de vida, acreditavam na redução da fecundidade e na melhora do bem-estar da humanidade. Se estes dois grandes pensadores não tiveram todas suas previsões utópicas realizadas, contudo, eles acertaram mais do que erraram em suas esperanças.
Todas as previsões de Malthus, ao contrário, se mostraram erradas. Ele pregava o salário de subsistência para adiar a idade ao casar e manter a fecundidade dentro de certos limites e considerava que a mortalidade iria ser a variável de controle do crescimento excessivo da população. Não foi isto que aconteceu nos últimos 200 anos, mas sim a redução das taxas de natalidade, de mortalidade e o aumento espetacular da esperança de vida na maior parte dos países do mundo.
Por que então se preocupar com Malthus?
Na verdade, o objetivo deste artigo é combater o fantasma de Malthus. Sim, pois Malthus morreu, mas por diversas vezes, de forma cíclica, seus pensamentos voltam a assustar o mundo de forma fantasmagórica. Com o aumento do preço dos alimentos, a maior demanda mundial por commodities puxada, entre outros, pelo maior consumo da China e da Índia e a competição entre a produção de biocombustíveis e de grãos têm trazido de volta o fantasma malthusiano.
Autores, como John Gray e James Lovelock, consideram que a humanidade caminha para o precipício (Alves, 2007)[i]. Segundo Gray: “A espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa com desastres climáticos e a escassez de recursos. A boa notícia é que, livre do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu curso”. Na mesma linha, Lovelock afirma: "Bilhões de nós morrerão e os poucos casais férteis de pessoas que sobreviverão estarão no Ártico, onde o clima continuará tolerável". Para ele: "o mundo já ultrapassou o ponto de não retorno quanto às mudanças climáticas e a civilização como a conhecemos dificilmente irá sobreviver".
Felizmente, este tipo de postura malthusiana não predomina nem entre os setores progressistas da sociedade e nem entre setores conservadores ou liberais. A revista The Economist (15/05/2008)[ii]O artigo da revista termina com o seguinte prognóstico otimista: "There may be curbs on traditional forms of growth, but there is no limit to human ingenuity. That is why Malthus remains as wrong today as he was two centuries ago”., em artigo entitulado "Malthus, the false prophet” mostra que a transição demográfica está em curso em todo o mundo, reduzindo o ritmo de crescimento populacional, ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos possibilitam ganhos de produtividade que elevam a disponibilidade de meios de subsistência e matérias-primas.
Isto quer dizer que o aumento do preço dos alimentos se deve a fatores conjunturais? E a crise de energia? E o aquecimento global? Teremos resposta para todos os desafios atuais?

Seria ingenuidade acreditar em soluções simples para a economia mundial nas próximas décadas. Mas talvez não fosse exagero dizer que o aumento do preço dos alimentos e das commodities neste início do século XXI tenha um lado positivo, na medida em que reflete uma maior crescimento da economia internacional, maior demanda dos países em desenvolvimento e uma mudança nos termos de intercâmbio, com os produtos agrícolas e matérias primas, do meio rural, ganhando valor em relação aos bens e serviços industriais e do meio urbano. Contudo, este possível benefício pode ficar concentrado nas mãos de poucos, deixando as parcelas mais carentes da população sem acesso à cesta básica nutricional.

A revista Newsweek (17/04/2008)[iii], com base em estudos de Raj Patel, afirma: "The global food crisis is less about shortages than about bad policy”. Na verdade, podemos enumerar uma série de pontos que estão relacionados ao aumento do preço e à crise de abastecimento:

1) desvalorização do dólar diante da maioria das outras moedas;
2) crescimento da demanda por alimento em função do aumento do poder de compra de parcelas expressivas da população mundial, que continua crescendo, em especial nos países em desenvolvimento;
3) estrutura rígida da oferta de alimentos, seja por subsídios agrícolas nos países desenvolvidos ou por monopólios e concentração da propriedade agrícola nos países em desenvolvimento;
4) falta de investimentos em tecnologias que permitam o aumento da produtividade agrícola e na melhoria da infra-estrutura de produção;
5) falta de apoio à agricultura familiar e controle dos insumos por parte de empresas oligopolistas;
6) crescimento do protecionismo e da especulação financeira e dos "hedges funds";
7) aumento da área plantada para a produção de biocombustíveis;
8) Erosão das terras e salinização das águas;
9) Aumento do preço do petróleo e fortalecimento da OPEP;
10) Alterações climáticas provocadas pelo aquecimento global que já afetam a produção de alimentos e reduzem a área de produção de grãos e a obtenção de proteínas animais.

Como se vê, são múltiplas as causas do aumento do preço dos alimentos. A produção de biocombustíveis é apenas mais um elemento que contribui para a alta dos preços dos alimentos. A solução requer ações em várias frentes e um plano multifacetado de alternativas. É preciso mudar as políticas públicas, garantir acesso à terra e aos alimentos para a população mais pobre e aumentar a cooperação internacional.
Com certeza, não estamos diante de uma provável crise malthusiana que provocaria o aumento das taxas de mortalidade e uma crise populacional. O grande erro de Malthus foi substimar as potencialidades dos desenvolvimentos tecnológicos e ir contra a possibilidade do aumento do bem-estar da população, ao pregar o salário de subsistência como único meio de evitar o crescimento populacional. Exatamente por ser Pastor da Igreja Anglicana, Malthus utilizou preceitos religiosos para ser contra métodos de regulação da fecundidade. Ele só imaginava ajustes populacionais por meio de uma crise de mortalidade, o que denominava “xeques positivos”.
A despeito da gravidade da crise atual, o fantama de Malthus não assusta neste momento. Mas isto também não quer dizer que os problemas de população não contam e não importam. Ao contrário, os países que estão se saindo melhor no cenário mundial são aqueles que prosseguiram na transição demográfica e, além de terem reduzido o ritmo de crescimento populacional, conseguiram mudar suas estruturas etárias com a diminuição das razões de dependência.
A solução malthusiana para as crises passa necessariamente pelo aumento da mortalidade. Contudo, é possível se buscar soluções para os problemas econômicos e do meio ambiente em um quadro de aumento da esperança de vida e com continuidade da transição da fecundidade.
Tanto a ideologia controlista, quanto a pró-natalista estão fora de moda e do tempo atual. A cada dia fica mais claro de que não existe um tamanho ideal de população, pois o que vale é o bem-estar de todos os cidadãos. Portanto, a dinâmica populacional deve estar a serviço da melhoria geral não só da qualidade de vida das pessoas mas também em harmonia com o meio ambiente e com garantia de manutenção da biodiversidade do Planeta.


[i] ALVES, J.E.D. População, pobreza e meio ambiente. Salvador, BAHIA Análise & Dados, V. 17, n. 1, junho 2007. Disponível em:
[ii] The Economist, Malthus, the false prophet, May 15th 2008. Disponível em:
[iii] Newsweek, ‘We Should Feel Angry’ Apr 17, 2008, Disponível em:


ARTIGO DE: José Eustáquio Diniz Alves

Revista: OPS! O PENSADOR SELVAGEM

Ecologia Humana da Universidade dos pés descalços.

Fantástica experiência que mostra que o conhecimento não tem dono, tem valores intrísecos de um povo.

Aprender com os pés-descalços – Bunker Roy

Fonte: TED – Ideas worth spreading.
Em Rajasthan, na Índia, uma escola extraordinária ensina mulheres e homens do meio rural – muitos deles analfabetos – a se tornarem engenheiros solares, artesãos, dentistas e médicos nas suas próprias aldeias. Chama-se Faculdade dos Pés-Descalços. Seu fundador foi Bunker Roy. A ideia é tornar as comunidades locais auto-suficientes. No vídeo, ele fala um pouco sobre ela.

TRANSCRIÇÃO (UM POUCO MODIFICADA) DAS LEGENDAS DO VÍDEO

Gostaria de levar vocês a um outro mundo e compartilhar uma história de amor de 45 anos, com pessoas pobres que vivem com menos de um dólar por dia.
Eu tive uma educação elitista, esnobe e cara, na Índia. E isso quase me destuiu. Fui formado para ser diplomata, professor, médico. Estava tudo  certo. [...] O mundo inteiro estava à minha disposição. Eu tinha tudo aos meus pés. Nada podia dar errado. Então pensei que, por curiosidade, gostaria de ir morar e trabalhar numa aldeia, só pra ver como era. Era o ano de 1965, e eu testemunhei aquela que foi considerada a pior crise de fome, em Bihar, na Índia. Vi fome e morte, pela primeira vez. Vi pessoas morrendo de fome. Isso mudou a minha vida.
Cheguei em casa e disse à minha mãe: “Quero ir morar e trabalhar numa aldeia”. Minha mãe entrou em coma: “Como assim? O mundo inteiro à sua disposição, os melhores empregos… Tem alguma coisa de errado com você?” Eu disse: “Não. Eu tive uma formação das melhores e isso me fez pensar: eu queria retribuir de alguma forma, do meu jeito”. “O que você vai fazer numa aldeia? Sem emprego, sem dinheiro, sem estabilidade, sem perspectivas?” Eu disse: “Eu quero ir morar e cavar poços durante cinco anos”. “Cavar poços? Você frequentou a escola e a faculdade mais caras da Índia e você quer passar cinco anos cavando poços?” Ela parou de falar comigo por muito tempo, porque achava que eu tinha decepcionado a minha família.
Mas foi então que eu pude ter contato com conhecimentos e habilidades dos mais extraordinários, que as pessoas muito pobres têm e que nunca vêm ao conhecimento público, nunca são identificados, respeitados e aplicados amplamente. Tive a ideia de fundar uma Faculdade de Pés-Descalços, uma faculdade só para pessoas pobres. O que as pessoas pobres considerassem importante seria acolhido nessa faculdade.
Fui para uma aldeia onde eu nunca tinha estado. Os mais velhos vieram e me perguntaram: “Você está fugindo da polícia?” Eu disse: “Não.” “Você foi reprovado na faculdade?” Eu disse: “Não.” “Você não conseguiu arranjar um cargo público.” Eu disse: “Não é isso.” “O que você está fazendo aqui? Por que você está aqui? O sistema de educação na Índia leva a ter os olhos voltados para Paris, Nova Deli e Zurique. O que você está fazendo nesta aldeia? Tem alguma coisa que você está escondendo de nós?” Eu disse: “Não. Na verdade, eu quero abrir uma faculdade só para pessoas pobres, que trate do que as pessoas pobres achem importante.” Então eles me deram um conselho sensato e sábio: “Por favor, não traga ninguém com titulação acadêmica ou qualificação profissional para a sua faculdade”. Assim, essa é a única faculdade da Índia onde, se você tem um doutorado ou um mestrado, não é visto como qualificado. Você tem de ser um inconformado, um desgraçado ou um marginalizado para vir para a nossa faculdade. Você precisa ser alguém que trabalha com as mãos. Tem que ter a dignidade de um trabalhador. Tem que mostrar uma habilidade que possa oferecer à comunidade, para prestar um serviço à comunidade.
Foi assim que surgiu a Faculdade dos Pés-Descalços. E redefiniu profissionalismo. Quem é um profissional? Um profissional é alguém em quem se combinam competência, confiança e fé. Uma parteira tradicional é uma profissional. Um oleiro tradicional é um profissional. Há profissionais espalhados pelo mundo todo, em qualquer aldeia inacessível do mundo. E acreditamos que essas pessoas tinham que entrar em cena e mostrar que os conhecimentos e habilidades que elas têm são universais. Precisamos usá-los, aplicá-los e mostrar para o mundo lá fora que esses conhecimentos e habilidades ainda têm valor hoje em dia.
A faculdade funciona de acordo com o estilo de vida e de trabalho de Mahatma Gandhi: comer no chão, dormir no chão, trabalhar no chão. Não tem contratos formais, escritos. Você pode ficar vinte anos ou ir embora amanhã. E ninguém pode receber mais do que 100 dólares por mês. Quem vier pelo dinheiro, não entra para a Faculdade dos Pés-Descalços. Quem vier pelo trabalho e pelo desafio, entra para a Faculdade dos Pés-Descalços. Lá queremos que sejam postas em prática ideias malucas. Se você tiver uma ideia, venha testar. Não tem problema se der errado. Decepcionado e ferido, você pode começar de novo. É a única universidade onde o professor é aprendiz, e o aprendiz é professor. É a única universidade que não dá diploma. Você é diplomado pela comunidade à qual presta serviço. Não precisa de um papel para pendurar na parede para mostrar que é engenheiro.
Quando eu tive essa ideia, os mais velhos da aldeia disseram: “Bom, prove que isso é possível. É pura conversa enquanto você não puser em prática”. A primeira Faculdade dos Pés Descalços surgiu em 1986. Foi construída por doze arquitetos de pés-descalços, que não sabem ler nem escrever. Construída por um dólar e meio o metro quadrado. Cento e cinquenta pessoas moraram ali, trabalharam ali. Receberam o prêmio Aga Khan de Arquitetura em 2002. Mas aí houve a suspeita de que tivesse algum arquiteto por trás. Eu disse: “É verdade, eles fizeram as plantas, mas os arquitetos pés-descalços foram os que efetivamente construíram a universidade”. Nós fomos os primeiros a devolver o prêmio de 500.000 dólares, porque não acreditaram em nós, e nós achamos que aquilo era um insulto para com os arquitetos pés-descalços da Tilônia.
Consultei um especialista, qualificado: “O que dá para plantar nesse lugar?” Ele olhou o terreno e disse: “Sem chances, não cresce nada aqui: não tem água, solo rochoso…” Eu, lá no terreno, pensei: “Bom, vou procurar um dos anciãos”. Perguntei: “O que dá para plantar neste lugar?” Ele me olhou bem tranquilo e disse: “Isso, aquilo, tal outra coisa vai dar certo”. E essa é a cara que aquilo lá tem hoje [Foto das plantas no vídeo].
No telhado, as mulheres disseram: “Pode ir saindo daqui! Os homens têm que sair porque nós não vamos passar essa tecnologia para homens. Estamos impermeabilizando o teto.” Vai um pouco de açúcar mascavo, um pouco de urina, alguma coisa mais que eu não sei, mas não tem mesmo infiltração. Desde 1986, nunca entrou água. E essa é uma tecnologia que as mulheres não ensinam para os homens.
É a única universidade totalmente abastecida por energia solar. Toda a energia vem do sol, de painéis de 45 kilowatts no telhado. Tudo vai funcionar à base de sol nos próximos 25 anos. Enquanto o sol brilhar, não vamos ter falta de energia. E o bonito é que tudo aquilo foi instalado por um padre, um padre hindu que só cursou os oito anos do ensino primário. Não tem ensino secundário, nunca pisou numa faculdade. E ele sabe mais sobre energia solar do que qualquer outra pessoa que eu conheço no mundo, sem dúvida.
Se um dia vocês forem lá, vão ver que tudo é cozinhado com energia solar. As pessoa que fabricaram o fogão à energia solar são mulheres. São mulheres analfabetas que fabricam o fogão solar mais sofisticado: um fogão solar movido a parabólica Scheffler. Infelizmente elas são quase meio-alemãs, de tanta precisão. Vocês nunca vão encontrar mulheres indianas capazes de tanta precisão. Elas conseguem fazer o fogão com precisão em cada mínima polegada. E nós temos 60 refeições, duas vezes por dia, que são feitas com energia solar.
Também temos uma dentista. É uma senhora que é avó, analfabeta, e é dentista. Ela trata os dentes de 7.000 crianças.
Desde 1986 – sem nenhum arquiteto ou engenheiro envolvido nisso -, estamos coletando água dos telhados. Há muito pouco desperdício de água. Todos os telhados estão ligados a um tanque de 400.000 litros no subsolo, e pouca água se perde. Se tivéssemos uma seca de quatro anos, ainda assim não faltaria água no campus, graças à coleta de água das chuvas.
Normalmente, 60% das crianças não vão à escola, porque elas precisam cuidar dos animais, fazer trabalhos domésticos… Por isso nós pensamos em criar uma escola noturna para as crianças. Na Tilônia, mais de 75.000 crianças frequentam essas escolas noturnas, porque elas são adequadas aos horários das crianças, não dos professores. O que ensinamos nessas escolas? Democracia, cidadania, como medir o seu terreno, o que você deve fazer se for preso, o que fazer quando um animal está doente. É isso o que ensinamos nas escolas noturnas. Todas as escolas são iluminadas com energia solar. A cada cinco anos fazemos uma eleição. As crianças entre 6 e 14 anos participam de um processo democrático e elegem um primeiro-ministro. A atual primeira-ministra tem 12 anos. De manhã, ela toma conta de vinte cabras, mas à noite ela é a primeira-ministra. Tem um governo, um ministro da educação, um ministro de energia, um ministro da saúde. Eles acompanham e supervisionam 150 escolas com 7.000 crianças. Ela recebeu o Prêmio das Crianças do Mundo há cinco anos e viajou para a Suécia. Foi a primeira vez que ela saiu da aldeia. Nunca tinha visto a Suécia. Não estava nada deslumbrada com o que estava acontecendo. A rainha da Suécia se virou para mim e disse: “Pregunte a essa criança onde ela arranjou tanta auto-confiança. Ela só tem 12 anos! E não está desconcertada com nada.” E a garota, à esquerda dela, se virou para mim, olhou para a rainha bem nos olhos e disse: “Por favor, explique a ela que eu sou a primeira-ministra”.
Onde a porcentagem de analfabetismo é muito alta, usamos fantoches. Eles são nosso meio de comunicação. Temos o Jaokim Chacha, que tem 300 anos. Ele é meu psicanalista, meu professor, meu médico, meu advogado, meu patrocinador. Ele arrecada dinheiro e resolve disputas. Resolve os problemas na aldeia. Quando as coisas ficam tensas na aldeia, se a frequência às aulas cai, se há algum atrito entre um professor e um pai, o fantoche chama o professor e o pai diante da aldeia e diz: “Façam as pazes”. “A frequência às aulas não deve cair…” Esse fantoches são feitos de relatórios reciclados do Banco Mundial.
Essa abordagem descentralizada, desmistificada, do abastecimento de eletricidade das aldeias com energia solar, está por toda a Índia, desde Ladakh até o Butão. Tudo com energia elétrica instalada por pessoas que receberam formação. Fomos a Ladakh e perguntamos a esta mulher [foto no vídeo], a 40 graus negativos – era impossível ficar no telhado porque estava tudo coberto de neve por todos os lados. Perguntamos: “Qual foi o benefício do abastecimento solar de energia?”. Ela pensou um pouco e disse: “É a primeira vez que eu consigo ver a cara do meu marido no inverno”.
Fomos para o Afeganistão. Uma lição que aprendemos na Índia foi que é impossível ensinar os homens: homens são inquietos, homens são ambiciosos, homens são compulsivamente nômades… e todos eles querem um diploma. É uma tendência no mundo todo: os homens querem um diploma. Por quê? Porque eles querem sair da aldeia e ir para a cidade, para procurar um emprego. Então encontramos uma solução ótima: ensinar as avós. Qual é a melhor forma de se comunicar no mundo de hoje? A televisão? Não. O telégrafo? Não. Telefone? Não. Telemulher: conte para uma mulher. Chegamos no Afeganistão, escolhemos três mulheres e dissemos que queríamos levá-las para a Índia. Disseram: “Impossível. Elas não saem nem dos próprios quartos e vocês querem levá-las para a Índia…” Eu disse: “Faço uma concessão e levo junto os maridos”. Levei os maridos com elas. E é evidente que as mulheres eram muito mais inteligentes do que os homens. Seis meses depois, como tínhamos mudado essas mulheres? Com linguagem gestual. Não usamos a palavra escrita. Não usamos a palavra falada. Usamos linguagem gestual. Em seis meses elas se tornaram engenheiras solares, voltaram e instalaram energia solar na sua própria aldeia. Esta mulher voltou e instalou redes de energia solar na primeira aldeia, montou uma oficina. A primeira aldeia abastecida com energia solar no Afeganistão foi obra de três mulheres [imagem no vídeo]. Esta mulher [imagem no vídeo] é uma avó extraordinária. Tem 55 anos e instalou energia solar para mim em 200 casas do Afeganistão. E elas não desabaram. Tem mais: ela foi falar com um departamento de engenharia no Afeganistão e acabou explicando para o chefe do departamento a diferença entre AC e DC (corrente alternada e estacionária, respectivamente). Ele não sabia… Aquelas três mulheres ensinaram outras 27 mulheres, que levaram energia elétrica para 100 aldeias do Afeganistão, energia solar.
Fomos para a África e fizemos o mesmo. Todas essas mulheres sentadas à mesma mesa [imagem no vídeo], que são de oito ou nove países, todas elas estão conversando entre si, sem entender uma palavra, já que falam línguas diferentes, mas a linguagem corporal delas é extraordinária. Elas estão conversando entre si e se tornando engenheiras solares.
Fui para Serra Leoa. Um dia, um ministro que ia dirigindo pela estrada à noite passou por uma aldeia, deu meia-volta, entrou na aldeia e perguntou: “O que é isso aqui?” Responderam: “Foram essas duas avós”. O ministro não acreditava naquilo: “Para onde elas foram?” “Foram para a Índia e voltaram”. Ele foi procurar o presidente e disse: “Sabe que há uma aldeia abastecida com energia solar em Serra Leoa?” Ele disse: “Não”. A metade do governo foi visitar as avós no dia seguinte: “Queremos saber direito essa história”. Aí o presidente me chamou e disse: “Você pode ensinar mais 150 senhoras para mim?” Eu disse: “Eu não posso, senhor presidente. Mas as mulheres que fizeram as instalações na aldeia podem.” Foi assim que ele construiu para mim o primeiro centro de ensino Pés-Descalços em Serra Leoa. E 150 avós foram ensinadas em Serra Leoa.
Gâmbia… Fomos à Gâmbia para selecionar uma avó. Chegamos numa aldeia. Eu sabia qual das mulheres gostaria de levar. A comunidade se reuniu e disse: “Leve essas duas mulheres aqui.” Eu disse: “Não. Eu quero levar esta aqui.” Eles disseram: “Por quê? Ela não sabe a sua língua, você não a conhece…” Eu disse: “Eu gosto da linguagem corporal dela, gosto de como ela fala.” “Bom, ela tem um marido meio complicado, não vai dar.” “Chamem o marido”. O marido apareceu: fanfarrão, político, de celular na mão… Eu disse: ” “Nem pensar”. “Como não? Veja só, ela é bonita…” Eu disse: “É, ela é muito bonita.” “E se ela fugir com um indiano?” Era esse o medo deles… Eu disse: “Ela vai ficar bem. Vai ligar para o celular dele e tal.” Ela chegou como uma avó e voltou como um tigre. Desceu do avião e falou com a imprensa como se fosse uma veterana. Lidou com a comunicação social nacional e virou uma estrela. Quando eu voltei, seis meses depois, perguntei: “Onde está o seu marido?” Ela disse: “Ah, ele está por aí, não importa.” Uma história de sucesso…
Queria terminar dizendo apenas o seguinte: eu acredito que não é preciso procurar soluções no exterior. Procurem as soluções dentro. Escutem as pessoas que têm as soluções bem na frente de vocês. Elas existem no mundo todo, não há com que se preocupar. Não dêem ouvidos ao Banco Mundial: escutem as pessoas do lugar. Elas têm todas as soluções do mundo. Termino com uma citação de Mahatma Gandhi:

Primeiro as pessoas ignoram você.
Depois riem de você.
Depois lutam contra você.
Depois…
…você vence.

 

extraído do site Ani Dabar



Crescimento populacional e consumo de água.

por Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil

Estudo do PNUMA e do IWMI, apresentado na Semana Mundial da Água, aponta que aumento do número de habitantes no planeta e atual agricultura podem ameaçar recursos hídricos e ecossistemas da Terra.
1245 300x300 Crescimento da população deve levar a crise da água
Atualmente, cerca de 1,6 bilhões de pessoas vivem em áreas com escassez de água, e 2,6 bilhões não tem acesso a saneamento básico. E essa situação deve se agravar se a população continuar aumentando e chegar aos nove bilhões esperados para 2050. Pelo menos é o que indica a nova pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Manejo da Água (IWNI), lançada nesta segunda-feira (22).
De acordo com o documento, intitulado Uma abordagem de serviços de ecossistemas para a água e a segurança alimentar, com as mesmas práticas agrícolas, o aumento da urbanização e os padrões alimentares atuais, a quantidade de água necessária para a agricultura aumentaria dos 7,13 mil quilômetros cúbicos para 70% a 90% a mais para suprir a população prevista para 2050. E isso acarretaria em prejuízos para a própria agricultura e para a vida humana.
No entanto, segundo o relatório, impedir as práticas agrícolas em determinadas regiões pode, ao invés de evitar a degradação de ecossistemas e recursos hídricos, piorar essa situação. “Proibições gerais contra o cultivo nem sempre reduzem a destruição do ecossistema e podem tornar as coisas piores”, declarou Matthew McCartney, co-autor do relatório.
McCartney cita o exemplo do gramado ‘dambo’ das zonas úmidas da África subsaariana, que fornece terras agrícolas para os camponeses da região. “Proibir a agricultura nessas áreas, no entanto, agravou, em vez de reduzir, a destruição do ecossistema. Elevou o desmatamento e levou a uma mudança da agricultura à pastagem nas zonas úmidas e isso tem um impacto muito maior nesses sistemas naturais”.
Por isso, os autores sugerem que é necessário integrar a agricultura com a proteção dos recursos naturais. “O que é necessário é um equilíbrio: práticas agrícolas apropriadas que apóiem a produção sustentável de alimentos e protejam os ecossistemas”.
“A agricultura é tanto a maior causa quanto a vítima da degradação do ecossistema. E não está claro se podemos continuar a aumentar a produção com as práticas atuais. A intensificação sustentável da agricultura é uma prioridade para a futura segurança alimentar, mas precisamos desenvolver uma abordagem mais integrada”, declarou Eline Boelee, editora científica do IWMI.
Para David Molden, vice-diretor geral para pesquisa do IWMI, já é possível perceber um movimento que prioriza essas soluções conjuntas. “Estamos vendo uma tendência crescente de alianças entre grupos tradicionalmente conservacionistas e os preocupados com a agricultura”.
“As várias alianças políticas, comunitárias e de pesquisa que estão surgindo agora estão desafiando a noção de que temos que escolher entre a segurança alimentar e a saúde do ecossistema, deixando claro que não podemos ter uma sem a outra”, explicou Molden.
O vice-diretor geral para pesquisa do IWMI enfatizou que é necessário mudar nosso modo de lidar com a agricultura o quanto antes para que a situação não se torne irreversível. “É essencial que no futuro façamos as coisas diferentemente. Há uma necessidade de uma mudança seminal na forma como as sociedades modernas veem a água e os ecossistemas e na forma como nós, pessoas, interagimos com eles”.
“Precisamos pensar em como direcionar a agricultura cada vez mais para a ‘economia verde’, na qual valorizamos práticas agrícolas que protegem nossos preciosos recursos hídricos, da mesma forma como estamos começando a valorizar a gestão florestal que ajuda a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, especialmente porque esses recursos naturais sustentam a subsistência dos mais vulneráveis”, disse Colin Chartres, diretor do IWMI.
“O manejo da água para a alimentação e para os ecossistemas trará grandes benefícios, mas não há como escapar da urgência desta situação. Estamos caminhando para um desastre se não mudarmos nossas práticas costumeiras”, concluiu Molden.
Semana Mundial da Água
A publicação do estudo abriu os debates da Semana Mundial da Água, que acontece entre os dias 21 e 27 de agosto em Estocolmo, na Suécia. Neste ano, o evento tem como tema A água num mundo urbanizado, e os cerca de 2,5 mil participantes – entre especialistas, profissionais, líderes mundiais e inovadores empresariais – discutem questões relacionadas à água no ambiente urbano, como infra-estrutura, enchentes, poluição, acesso, políticas públicas etc.
“As cidades proporcionam grande economia de escala e oferecem oportunidades excelentes para o desenvolvimento de uma infra-estrutura eficaz, que possibilite um reaproveitamento maior da água e de resíduos, além de um uso mais eficiente da água e da energia”, afirmou Anders Berntell, diretor-executivo do IWMI.
Catarina de Albuquerque, relatora da ONU para o Direito Humano à Água e ao Saneamento, notou que infelizmente “existe ainda falta de conhecimento sobre o que este direito humano à água e saneamento implica. E implica que todas as políticas públicas deem prioridade às pessoas que são mais vulneráveis, às pessoas que estão esquecidas, que não têm voz, que estão nas zonas rurais, populações indígenas, pobres, pessoas que estão em favelas”.
Berntell alertou também que “estamos correndo o risco de perder a batalha na área de serviços de água e saneamento em muitas cidades do mundo, e essa é uma luta que não podemos nos dar ao luxo de perder”.
Um dos assuntos que está sendo tratado no encontro é a possibilidade e a necessidade de se criarem alternativas para o uso de água na questão do saneamento. “Temos obrigação de olhar, cada vez mais, para soluções de saneamento que não utilizem água. Estive no Japão há um ano, e eles reutilizam dentro das casas e apartamentos, têm sistemas de tubulação paralelos, que lhes permitem usar a água do banho para o saneamento”, comentou Catarina.
“É o resto da água do lavar as mãos, de tomar a ducha, ou da máquina de lavar roupas ou pratos que é utilizada no saneamento. Portanto temos que olhar mais para essas soluções que nos permitem reutilizar a água. Para que não tenhamos que utilizar água potável para o saneamento”, acrescentou ela.
Gunilla Carlsson, ministra sueca da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, lembrou que o acesso ao fornecimento de água limpa e saneamento é um fator que estimula o desenvolvimento. “Os custos da omissão excedem os custos do controle sustentável e funcional dos recursos aquáticos”.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)

Crescimento populacional e consumo: onde está o problema?

por José Eustáquio Diniz Alves*

Existem pessoas que colocam toda a culpa dos problemas do mundo no tamanho e no ritmo de incremento da população e consideram que o crescimento demográfico é o principal responsável pela reprodução da pobreza e pela degradação do meio ambiente.
Mas também existem outras pessoas que dizem exatamente o contrário e consideram que a população não é um problema, pois a culpa da pobreza se deve à concentração da renda e da propriedade, enquanto os maiores danos ao meio ambiente decorrem do impacto provocado pelo volume e crescimento do consumo, especialmente das parcelas mais afluentes da população.
Os ricos culpam os pobres pelos problemas da miséria e do meio ambiente. Os pobres devolvem os “insultos” e consideram que o padrão de vida e os privilégios dos ricos são os verdadeiros responsáveis pelo aumento da pobreza e da degração ambiental.
Quem está com a razão? Os dois tipos de argumentos estão certos? Ou os dois estão errados?
Vejamos sinteticamente o debate sobre população e pobreza.
Os dados mostram que, ao longo da história, a grande maioria da população mundial era pobre e tinha uma esperança de vida média em torno dos 30 anos, situação que se manteve até a maior parte do século XIX. No Brasil, nesta época, as péssimas condições de saúde e educação da população em geral eram agravadas pela escravidão e a total falta de autonomia das mulheres (que não podiam votar, estavam subjugadas aos espaços privados e eram legalmente dependentes dos pais e/ou maridos).
Mas diversos avanços econômicos, médicos e sanitários possibilitaram a redução das taxas de mortalidade, especialmente da mortalidade infantil, na maior parte do mundo e também no Brasil. Com o maior número de filhos sobreviventes e vivendo vidas mais longas, as famílias passaram a limitar a quantidade de filhos nascidos vivos e investir mais na qualidade dos mesmos. Este processo conhecido como transição demográfica gera, inexoravelmente, uma mudança na estrutura etária que abre uma janela de oportunidade e cria um bônus demográfico que, se bem aproveitado, possibilita o combate à pobreza e o avanço de políticas para a melhoria da qualidade de vida da população.
Portanto, a transição demográfica (de altas para baixas taxas de mortalidade e fecundidade) e o processo de redução da pobreza são dois fenômenos que se reforçam mutuamente. Neste sentido, podemos dizer que não é o crescimento populacional que gera as situações de miséria, mas, inegavelmente, uma redução no ritmo de crescimento demográfico ajuda no processo de saída das condições de pobreza.
Por outro lado, a falta de recursos educacionais e econômicos por parte das famílias e do Estado está correlacionada com os territórios com maiores taxas de fecundidade. Desta forma, alto crescimento populacional e carencia de recursos econômicos e culturais se somam e constituem o chamado fenômeno da “armadilha da pobreza”. Assim, nestes casos, a pobreza explica o alto crescimento populacional tanto quanto o alto crescimento populacional explica a pobreza. Romper com este círculo vicioso é o grande desafio colocado, por exemplo, pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, aprovados pela ONU, na Cúpula do Milênio, no ano 2000.
Agora vejamos sinteticamenente o debate sobre população e meio ambiente.
É muito fácil para um ser humano dizer, por exemplo, que “7 bilhões de habitantes não são um problema”. Mas qual seria a resposta se perguntássemos se a Terra está superpovoada para uma onça, um tigre, um elefante, um rinoceronte, um tamanduá ou um orangotango? E se perguntássemos para um cedro, um mogno, um jacarandá ou um pau-brasil? O que nos diria um sabiá, um bem-te-vi ou um pintassilgo?
Evidentemente, comparado com outras espécies, 7 bilhões de habitantes não é pouco, pois cada pessoa precisa de água, comida, casa, transporte, saúde, educação, lazer, etc. Tirando a água, as outras coisas não caem do céu. E embora exista muita água na Terra, a água potável é escassa e geograficamente mal distribuída. Pior, a humanidade está poluindo, danificando e sobre-utilizando as fontes limpas de água, no solo e no sub-solo.
O impacto das atividades antrópicas sobre a natureza já ultrapassou a capacidade de regeneração do Planeta. Do ponto de vista do aquecimento global, são os países ricos e com maior desenvolvimento industrial que mais emitiram e emitem gases do efeito estufa. Calcula-se que o segmento dos 13% mais abastados da população mundial seja responsável por 50% da emissão de carbono do mundo. Resolver este imbróglio é uma tarefa urgente.
Contudo, a população pobre do mundo e que pouco contribui para o aquecimento global tem outros impactos não desprezíveis sobre o meio ambiente. Por mais pobre que seja uma população ela precisa de água, comida, lenha e outros consumos básicos.
Por exemplo, a bacia hidrográfica do rio Nilo, abrangendo uma área de 3.349.000 km², já não dá conta de abastecer as populações dos 10 países que, em maior ou menor proporção, dependem de suas águas. A população conjunta de Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia e Egito era de 84,7 milhões de habitantes em 1950, passou para 411,4 milhões em 2010 e deve chegar a 877,2 milhões em 2050 e 1,3 bilhão de habitantes em 2100, segundo dados da divisão de população das Nações Unidas.
Os problemas de fome, perda de biodiversidade e pobreza humana e ambiental são cada vez mais graves na região. A capacidade de carga da bacia hidrográfica do rio Nilo já não está suportando a população atual. Já existem diversos conflitos pela disputa da água entre os povos e os países. Também já existem multidões de deslocados ambientais e ecorefugiados decorrentes da deterioração das condições do solo, da seca, do desmatamento e das mudanças climáticas.
Por outro lado, a China, com 1,35 blhão de habitantes, está conseguindo retirar milhões de pessoas das situações de pobreza, embora enfrente, ao mesmo tempo, os problemas de falta de água, de desertificação, de poluição e de aumento acelerado da Pegada Ecológica. Para minorar este problemas o governo adota uma política autoritária de “filho único” e o país deve perder entre 500 e 600 milhões de habitantes entre 2030 e 2100.
Os demais povos querem emular a estratégia chinesa de produção em massa de bens e serviços, mas num quadro de crescimento da população como no Egito, Etiópia, Sudão, etc. Atualmente, mesmo que haja distribuição igualitária da renda e do consumo, em termos internacinais, a Pegada Ecológica já ultrapassou o uso de um planeta. Estamos consumindo mais de um planeta. Portanto, o mundo já sente as consequências do “sucesso” chinês e da busca desesperada das economias dos países em desenvolvimento em busca dos mesmos padrões de vida dos países desenvolvidos.
O fato é que o incremento do consumo, de um lado, e o aumento da população, de outro, estão contribuindo, mesmo que de forma diferenciada, para uma rápida degradação ambiental. Não existe consumo sem população e nem população sem consumo. Crescimento econômico e populacional ilimitado é uma equação impossível em um Planeta finito.
Por tudo isto, a próxima Conferência da ONU para o Meio Ambiente, a Rio + 20, precisa lidar com uma agenda para o decrescimento da Pegada Ecológica, estabelecendo ações para reduzir o impacto do consumo humano sobre a natureza, mas sem omitir medidas que viabilizem, democraticamente, a estabilização da população mundial em um futuro próximo. A necessidade de uma mudança de rumo é urgente.
* José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
** Publicado originalmente no portal do EcoDebate.

Ecologia política y capitalismo

Joel Sangronis Padrón*
 

La liberación de la naturaleza es la recuperación de las fuerzas vivificantes que hay en ella, de las cualidades
estéticas y sensuales que son ajenas a una vida desperdiciada en actos competitivos sin fin: con fuerzas y cualidades que sugieren los nuevos rasgos de la libertad.
No sorprende por eso, que el espíritu del capitalismo
rechace o ridiculice la idea de la naturaleza liberada,
que la relegue a la imaginación poética…


H. Marcuse



Es bien conocido que el término ecología fue acuñado a finales del siglo XIX  por el biólogo alemán Ernst Haeckel. Como toda disciplina científica nacida en pleno reinado del positivismo, la ecología, en tanto que ciencia natural, nació también con aspiraciones de ciencia pura, no contaminada con elementos metafísicos y mucho menos con elementos de las llamadas ciencias blandas o humanísticas.

Como en tantas otras disciplinas científicas y tantos aspectos de la realidad histórico-social, el viejo Carlos Marx vino a introducir un cuestionamiento en el propio seno de esta nueva disciplina que apenas daba sus primeros pasos en el escenario científico de la cultura occidental. Marx señaló que: “Mientras existan hombres, la historia de la naturaleza y la historia de los hombres se condiciona mutuamente”.

Con esta idea, con esta visión dialéctica de la naturaleza como “cuerpo inorgánico del hombre”,  desarrollada ampliamente en El Capital, Marx, al igual que había hecho con la economía, introdujo la política, entendida esta como las actividades de los hombres divididos en clases y enfrentados entre sí por las contradicciones que dicha división conlleva, en el ámbito de la ecología.

Estas pioneras ideas de Marx crearon el marco necesario para que en los últimos 40 años florecieran en todo el mundo estudios sobre la grave y cada vez más peligrosa crisis socioambiental, pero realizados desde la óptica política, esto es, una crisis estudiada y entendida como consecuencia de determinadas formas y relaciones de producción en el marco de determinados sistemas económicos y de poder.

Autores como los norteamericanos James O´connors, director de la revista Nature, Murray Bookchin con su tratado de la Ecología de la Libertad y John B. Foster con su agudo trabajo Ecología de Marx; el francés Andre Gorz con sus trabajos Ecología Política y Capitalismo, Socialismo y Ecología;  el austríaco Hans Magnus Enzensberger  con su clásico texto Para Una Crítica de la Ecología Política; el español Joan Martínez Alier o Héctor Alimonda en Latinoamérica.

Todos estos autores coinciden en el hecho de que la crisis ecológica que vive la humanidad, y que se ha acentuado en los últimos 30 años, (desertización, pérdida de la biodiversidad, recalentamiento global, rompimiento de la capa de ozono, extinciones masivas y aceleradas, hambrunas, y cambio climático) no pueden entenderse como fenómenos neutros, no pueden ni deben ser estudiados, de acuerdo a la metodología positivista, como hechos aislados del modelo de organización político económico y social que ha dominado a la mayor parte del mundo en los últimos 300 años, esto es, el capitalismo.

El capitalismo debe ser entendido no como un simple sistema de propiedad y producción sino como un sistema de organización económica y social, como un sistema de relaciones entre los hombres y entre estos y el medio natural no antropizado.

La cultura de la dominación, de la apropiación privada y de la explotación, paradigmas del capitalismo, se ha extendido no sólo a las relaciones de producción entre los hombres, sino también a la naturaleza. En el capitalismo la naturaleza es transformada de una entidad ecológica con complejas relaciones holísticas a una entidad económica con relaciones mercantiles de producción. Los derechos de propiedad y las relaciones de producción capitalistas condicionan explícitamente las formas y manejos de los ecosistemas ubicados en cada país o región sometidos a las leyes del mismo.

El homo sapiens de por si no es incompatible con el ecosistema terrestre salvo por el hecho que de nuestra especie surgió una sub especie superdepredadora que desde 1945, desde un lugar de los EEUU llamado Bretton Woods diseñó la globalización económica, perversa maquinaria succionadora de la energía vital de todo el ecosistema terrestre hacia un centro imperial delirante, desbocado, derrochador y enloquecido.

La lógica del capital como modo de producción y como cultura es esta: producir acumulación mediante la explotación de la fuerza de trabajo de los hombres por la dominación de clases, por el sometimiento imperial de los pueblos y finalmente por el pillaje de la naturaleza.

Este sistema a los fines de mantener altas tasas de ganancia (esta es su razón de existir) necesita recurrir en forma permanente a nuevas fuentes de producción (recursos naturales) para así poder mantener un alto consumo que a su vez se traduce en la generación de colosales cantidades de desechos como externalidades del proceso.

La racionalidad económica capitalista se caracteriza por el desajuste entre las formas y los ritmos de extracción, explotación y transformación de los recursos naturales por parte del sistema y las condiciones necesarias para la conservación y regeneración de los ecosistemas intervenidos. La aceleración en los ritmos de rotación del capital y la capitalización de la renta del suelo para maximizar ganancias ha generado una insostenible presión sobre los diferentes ecosistemas que existen en la tierra.

La expansión territorial requerida para garantizar el modo de producción capitalista no puede tomar en cuenta los ritmos de regeneración y recuperación de los ecosistemas que lo surten de materias primas, todo lo avasalla, todo lo hace parte y engranaje de su lógica. La causa de este tipo de desarrollo destructivo y depredador no es, por lo tanto, su irracionalidad, sino por el contrario, precisamente su racionalidad intrínseca.

La incompatibilidad (contradicción) entre la racionalidad  económica capitalista que al intervenir un ecosistema  persigue la generación masiva de un único producto (soja, maíz, ganado) para poder ser competitivo en la economía de mercado, con ciclos económicos cada vez más cortos y acelerados con el fin de maximizar ganancias y la diversidad y complejidad inherente a todo ecosistema (especialmente los tropicales) y sus lentos, a veces milenarios ciclos de reproducción, es absoluta!

La disminución de los recursos naturales conlleva necesariamente la degradación del entorno, por lo que es entonces aquí que debemos entender que la contaminación no es otra cosa que los productos de desecho del proceso de apropiación privada de recursos naturales que por su propia esencia tendrían que ser  sociales y comunitarios, tales como el agua, la tierra, el aire, los paisajes, etc. ; estos recursos al ser convertidos en mercancías quedan atados a la lógica del sistema que necesita consumir su valor y desecharlos rápidamente como externalidades del proceso.

El agotamiento progresivo e indeclinable de los recursos naturales que el capitalismo necesita para mantener su ritmo de funcionamiento es la causa principal del nuevo modelo hegemónico-imperial que sufre el mundo en nuestros días.

Como bien lo señala el autor vasco Artemio Baigorri: “previendo el agotamiento de los propios recursos, los países imperialistas se han lanzado de nuevo a la caza y captura de las colonias. Ya no son hoy en día los factores determinantes del imperialismo ni la necesidad de importar fuerza de trabajo (esclavismo), ni la necesidad de exportar capitales o de colocar una superproducción en los mercados coloniales, ni mucho menos la lucha política entre bloques. Se trata sencilla y llanamente de arrancar los minerales, el agua, la energía, el trabajo y hasta el ADN de allí donde se encuentren”.

Podemos concluir entonces afirmando que lo que conocemos hoy como crisis ambiental no es otra cosa en el fondo que el resultado del régimen social y económico imperante (capitalismo). Que los modos de producción y estructuras de dominación que conducen a la explotación del hombre por el hombre conducen inevitablemente también a la explotación de la naturaleza por parte de las clases dominantes de la sociedad humana.

La alienación del hombre incluye también la alienación de la naturaleza antropizada. Liberar al hombre de la opresión implica también liberar a la naturaleza de las actuales relaciones de explotación y dominación.

Lo que está en juego, más que la supervivencia de la especie humana, es su vocación y derecho a un mundo hermoso y libre, capaz de dimensionar una vida de relaciones fundadas en el más ser y no en el más tener, y en una lucha competitiva estéril y deshumanizante, que sobrevive a la sombra de un posible holocausto nuclear, con la permanente neurosis de un ambiente degradado, hostil y contaminado, con crisis económicas que proyectan hacia el futuro imágenes de pesadilla, un ser humano dislocado en sus fibras más profundas, mutilado de su entorno, enemigo de sí mismo y de toda otra forma de vida.

El socialismo que los seres humanos aún habremos de construir en este siglo que recién comienza, no solamente tendrá que enfrentar y superar las contradicciones socioecológicas que el capitalismo ha generado en los últimos 300 años, más importante aún, tendrá que crear un nuevo modelo cultural que permita al hombre producir los bienes que le son necesarios para su subsistencia en forma integrada y no destructiva, respetuosa con los ciclos y ritmos del ecosistema terrestre. Un socialismo en el que los hombres no condicionen agresivamente a la naturaleza sino que se integren a ella en forma armónica y plena. Tarea titánica en verdad, quizás la mayor que hemos enfrentado como especie, pero que por ello mismo no podemos demorar más en asumirla.



[*] Joel Sangronis Padrón / Ecologista y Profesor de la Universidad Nacional Experimental Rafael María Baralt (UNERMB) - Cabimas, Edo. Zulia / E-mail: Joelsanp02@yahoo.com

publicación / Soberania.org - 28/11/08