Ambiente e pobreza

Autor: Marco Antônio de Léllis Andrade 



Brasil é um país essencialmente urbano, cuja população se encontra basicamente concentrada nas grandes cidades. As questões sociais e ambientais de maior significado para a população brasileira, assim como suas perspectivas de solução, necessariamente vão se centrar onde existe maior densidade econômica e demográfica. A lista dos problemas ambientais nacionais é típica do atraso, da pobreza e da desordenada concentração populacional nas grandes cidades.
Caso não se considere a dimensão social, não se consegue alcançar um nível de educação ambiental adequada. Não existe uma fórmula mágica, pois há que se levar em conta muitos fatores. O objetivo ideal é aumentar a renda das pessoas que vivem em condições muito precárias, preservando o meio ambiente e fazendo uso dos recursos naturais disciplinadamente.
A megacidade de Rio de Janeiro e todos os seus problemas ambientais, com ênfase na contaminação atmosférica, são um alerta para San Juan. Rio de Janeiro tem hoje mais de seis milhões de habitantes, densidade populacional de 4.600 habitantes por km², com um grau de urbanização de 96,8% e um total de nove milhões de pessoas vivendo em sua região metropolitana. De acordo com projeções da ONU, no início desse século terá alcançado a casa dos 10 milhões de habitantes!
Na década de 80, segundo Luís Jorge Perez, estudioso do tema, 93% das residências tinha abastecimento de água, 3% se abasteciam de poços subterrâneos y 4% das outras fontes, sem controle. Em relação ao esgoto, 84% das casas estavam conectadas à rede, 2% usavam poços sépticos e 8% no contavam com nenhum serviço sanitário. No Rio, especificamente, pode-se notar o flagrante da dicotomia entre uma cidade moderna rica e uma pobre, muito pobre. Dados de 1993 mostravam que existiam na cidade 570 favelas, algumas de grande porte, a maior parte delas nos declives de montanhas, além disso, más de 500 assentamentos humanos ilegais, sem as mínimas condiciones de saneamento básico.
Trata-se por fim, da degradação ambiental e da vulnerabilidade urbana diante de um quadro tão caótico. Nos últimos 20 anos –segundo os repórteres Paula Autran y Rolland Gianotti do “Jornal do Brasil” de 22/10/95 -, o número de veículos em circulação nas ruas da cidade dobrou, passando de 575 mil para 1,2 milhões. O resultado disso foi uma queda acentuada da velocidade média do transito para preocupantes 26 km/h causando assim, una série de problemas, entre os quais o aumento da poluição atmosférica. Ao contrário do que acontece nas grandes cidades do mundo, os números que medem o desempenho do transporte público diminuem no Rio. As balsas que fazem o trajeto Rio-Niterói, por exemplo, que em 1975 transportavam diariamente cento e quarenta mil passageiros, hoje utilizam menos de cem mil pessoas. Em vinte anos, o número de passageiros do trem urbano se estabilizou em quatrocentos e trinta mil, e o metro, obra iniciada na década de 70 com a promessa de transportar um milhão e quatrocentas mil pessoas, hoje atende a 500 mil.
Entre os grandes impactos ambientais que atingem cidades como Rio de Janeiro e São Paulo em conseqüência da superpopulação, deve-se considerar: a favelização, a miséria predominante na periferia, o lixo urbano e a contaminação atmosférica. O impacto da pobreza sobre o meio ambiente foi constatado em um número crescente de países, segundo a canadense Elizabeth Dowdeswell, diretora executiva do Programa de das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD). Em seu discurso de posse, ela foi enfática: “geralmente pensamos que a paz é a ausência de guerra e certamente, quando pegamos às armas, no estamos em paz. Mas tampouco estamos em paz si não há alimentos suficientes para comer, si não existem casas adequadas, si não possuímos o indispensável e carecemos de esperança para escaparmos das garras da pobreza. Neste contexto, podemos dizer que, arredor do mundo, milhões de pessoas não se encontram em paz”.



Extraído do Jornal Estado de Minas, seção opinião, pag. 7 do dia 30/12/97